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quarta-feira, 18 de maio de 2011

Um acto alegre de humildade

"É natural que os outros tenham sempre razão, pelo simples facto dos outros serem cinco biliões (ou lá o que é) menos um e de eu ser apenas esse um. Ser influenciado é assim um reconhecimento da nossa pequena participação no mundo e da riqueza interminável desse mundo; é um acto alegre de humildade; um sinal enérgico de dependência humana"

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Isso

Almoço no Wok. Swirl. 
A assinalar o 25 de Abril, a liberdade, partilho Miguel Esteves Cardoso: "(...) a Liberdade e a Terra Prometida não são elementos estáticos que ficam ali à espera. São conquistas tuas, que podes criar a qualquer momento, em qualquer coisa que fizeres, só por te livrares de quem eras na véspera". É isso.

quinta-feira, 31 de março de 2011

Outros tais

Um passeio na praia de Carcavelos enquanto saboreava o belo do novo Cornetto Enigma e desfrutava da bela companhia. Fiquei surpreendida com a quantidade de gente que já estava na praia. O mar cheio de surfistas e as esplanadas com muito pessoal. E o que eu gosto de esplanadas! E o que eu gosto de praia! Gosto tanto deste ambiente cool, descontraído, onde se saboreia as boas coisas, onde até a música é boa, as caras estão mais bonitas, as pessoas muito mais divertidas e relaxadas. Gosto mesmo!
E vim logo com outra tranquilidade, e até vim ouvir a música "de praia". Obrigada.
Mudando para o assunto das leituras: ups, desta vez não li tanto como pretendia... E as próprias aquisições "livrescas" não foram para mim mas para outros, por isso não vou contabilizar.Ando, cada vez mais, a "saltitar" de livrarias.Vou onde as boas campanhas andam, não há cá "fidelizações", a não ser o interesse por obter um bom livro, a um bom preço. Chamo a isto: rebeldia livresca. Possivelmente tratar-se-á de um novo movimento.
Sim, está-me a dar para a parvalheira enquanto escrevo este belo e interessantíssimo post. O que vale é o meu sentido de humor, se não estava tudo fodido. Digo fodido, em homenagem ao maravilhoso Miguel Esteves Cardoso, de quem tenho saudades de ler.
(Imagem pessoal).

segunda-feira, 21 de março de 2011

Caminhos

Acordar bem cedinho para seguir pelos caminhos de Portugal, não a passeio, nem por diversão. E  alteraram-se as tarefas porque há certos serviços que não sabem cumprir horários.
E sentados à sombra, e do nada, recordámos a dança. E sorrimos.
Bem sei que é o Dia Mundial da Poesia mas apareceu-me este texto de Miguel Esteves Cardoso e não resisti em partilhar.Maravilhoso.


"O essencial é amar os outros. Pelo amor a uma só pessoa pode amar-se toda a humanidade. Vive-se bem sem trabalhar, sem dormir, sem comer. Passa-se bem sem amigos, sem transportes, sem cafés. É horrível, mas uma pessoa vai andando.
Apresentam-se e arranjam-se sempre alternativas. É fácil.
Mas sem amor e sem amar, o homem deixa-se desproteger e a vida acaba por matar.
Philip Larkin era um poeta pessimista. Disse que a única coisa que ia sobreviver a nós era o amor. O amor. Vive-se sem paixão, sem correspondência, sem resposta. Passa-se sem uma amante, sem uma casa, sem uma cama. É verdade, sim senhores.
Sem um amor não vive ninguém. Pode ser um amor sem razão, sem morada, sem nome sequer. Mas tem de ser um amor. Não tem de ser lindo, impossível, inaugural. Apenas tem de ser verdadeiro.
O amor é um abandono porque abdicamos, de quem vamos atrás. Saímos com ele. Atiramo-nos. Retraímo-nos. Mas não há nada a fazer: deixamo-lo ir. Mai tarde ou mais cedo, passamos para lá do dia a dia, para longe de onde estávamos. Para consolar, mandar vir, tentar perceber, voltar atrás.
O amor é que fica quando o coração está cansado. Quando o pensamento está exausto e os sentidos se deixam adormecer, o amor acorda para se apanhar. O amor é uma coisa que vai contra nós. É uma armadilha. No meio do sono, acorda. No meio do trabalho, lembra-se de se espreguiçar. O amor é uma das nossas almas. É a nossa ligação aos outros. Não se pode exterminar. Quem não dava a vida por um amor? Quem não tem um amor inseguro e incerto, lindo de morrer: de quem queira, até ao fim da vida, cuidar e fugir, fugir e cuidar?"

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Pertinho

Uma ida pertinho de Cascais, uma tarde de cinema caseiro, seguiu-se work e depois zapping.

E mais um belo texto de Miguel Esteves Cardoso:

                                     Amigos para sempre

"Os amigos cada vez mais se vêem menos. Parece que era só quando éramos novos, trabalhávamos e bebíamos juntos que nos víamos as vezes que queríamos, sempre diariamente. E, no maior luxo de todos, há muito perdido: porque não tínhamos mais nada para fazer.

Nesta semana, tenho almoçado com amigos meus grandes, que, pela primeira vez nas nossas vidas, não vejo há muitos anos. Cada um começa a falar comigo como se não tivéssemos passado um único dia sem nos vermos.

Nada falha. Tudo dispara como se nos estivera - e está - na massa do sangue: a excitação de contar coisas e a alegria de partilhar ninharias; as risotas por piadas de há muito repetidas; as promessas de esperanças que estão há que décadas por realizar.

Há grandes amigos que tenho a sorte de ter que insistem na importância da Presença com letra grande. Até agora nunca concordei, achando que a saudade faz pouco do tempo e que o coração é mais sensível à lembrança do que à repetição. Enganei-me. O melhor que os amigos e as amigas têm a fazer é verem-se cada vez que podem. É verdade que, mesmo tendo passado dez anos, é como se nos tivéssemos visto ontem. Mas, mesmo assim, sente-se o prazer inencontrável de reencontrar quem se pensava nunca mais encontrar. O tempo não passa pela amizade. Mas a amizade passa pelo tempo. É preciso segurá-la enquanto ela há. Somos amigos para sempre mas entre o dia de ficarmos amigos e o dia de morrermos vai uma distância tão grande como a vida."

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Sei lá

Foda-se*.

*Um bem-haja ao texto "O Poder libertador do palavrão", de Miguel Esteves Cardoso, que fez com que, sempre que se usa uma asneira, esta aparente ter mais classe.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Trata-se de uma panisguice

A verdade, verdadinha, é que, neste momento, estou sensível. Trata-se de uma panisguice! Até poderia construir uma teoria afirmando que foi do caraças da macrobiótica, que tive de papar, sozinha, durante duas refeições seguidas mas não foi o caso de hoje (o frango falou mais alto. Já a sobremesa fala sempre).  Poderia mencionar que é da bilinguice. Mas também não estaria a ser honesta. Na realidade, o momento panisgas assenta num misto de emoções e isso é que é fodido. (Para os mais sensíveis uso "fodido" como sinal de respeito pelo Miguel Esteves Cardoso).
Acabei de reparar nesta beleza e passo já a partilhar:


"Foda-se!" exclamação que exprime espanto, admiração, impaciência ou indignação. 

Que beleza! Foda-se!
A música continua a embalar-me.

domingo, 23 de maio de 2010

Texto

Gostei imenso deste texto.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Livros


Achei bastante interessante que tenham decorrido várias iniciativas em torno do dia mundial do livro. Da minha parte adquiri mais um, e ainda para mais super barato, ou melhor, quase de graça. Confesso que as campanhas andam a perseguir-me, algumas são bastante irresistíveis mas, para já, não posso ceder. E só de pensar que vem aí a Feira do Livro...
Mudando de assunto, enquanto tentava escapar à tentação dos livros, dei de caras com outra tentação... e lá tratei de assistir ao documentário francês, com um senhor bastante respeitado no mundo da blogosfera, e não só, ao meu lado, e cujas anotações, que ele ía fazendo, tive vontade de cuscar...
Seguiu-se a tentação das guloseimas ao oferecerem-me o novo Magnum, cuja campanha está bastante apelativa ao apresentarem um anúncio criativo com a participação do Benicio Del Toro.
Por fim, volto a apresentar uma parte de algo que já aqui abordei mas que pretendo reforçar:

"António Lobo Antunes disse uma vez que "os livros em Portugal são indecentemente caros". Concordo!
Por este motivo, acho que todas as campanhas, que visam tornar, os mesmos, mais acessíveis devem, sempre que possível, serem aproveitadas. E digo isto tendo a noção que as bibliotecas são sempre um recurso.
Gostava que em Portugal traduzissem mais, e com melhor qualidade. Gostava, ainda, que houvesse uma maior diversidade de determinadas categorias.
Por fim, gostava que muitas livrarias soubessem encaminhar melhor os leitores. Reforço, no entanto, que há excepções. Belas excepções, que tanto valorizo!"

Acabei de ler uma notícia e senti-me obrigada a vir acrescentar algo porque, de facto, há coisas que não encaixam... Então, o título da notícia é: "Ministra não quer revelar número de livros destruídos por vergonha". Ao dar seguimento à leitura deparo-me com a informação de que "são mais de cem mil" os livros destruídos... Pausa...Pausa...É que nem que fossem 10... Pausa...Pausa...Lá está a tal história do interesse comercial ao invés do cultural. Combate à iliteracia?! O que é isso? Ah, são modernices... Pausa...

Realmente o Miguel Esteves Cardoso é que tem razão...Lembrei-me logo deste texto dele e deste. E foi graças a esta associação de ideias que aparece aqui a palavra "pausa" enquanto digo palavrões.
Vá que não vá a Srª Ministra considera esta situação um "massacre" (o que até faz sentido tendo em conta que esta palavra está associada à ideia de destruição) e afirmou que o Ministério vai "fazer tudo o que estiver ao seu alcance para evitar"... E agora imito uma pequenita que conheço e pergunto "Tudo, tudo, tudo, tudo?!"

sexta-feira, 5 de março de 2010

Uma mistura de sei lá

Estou há horas com os pés molhados. Apetece-me dizer asneiras.
O que me motiva é saber que, hoje, vai haver jantarada, ou seja, convívio. 
Esta semana foi estranha. Não sei se foi da chuva mas não andei com grande motivação... Aliás, o facto de ter feito uma pausa para escrever, a esta hora (algo raro, muito raro), revela a estranheza em si. É isso e não ter vontade de dançar feita uma doida. Estou numa de "sem paciência", acho que é do tempo.
O Miguelito (aka Miguel Esteves Cardoso) é que explicaria isto bem. Acho que ele atribuiria o título tipo: "O tempo é fodido".
Para os que não leram "O Ultraje" (seus sacanas andam atentos a quê?!), que ele escreveu no Público, a menina, que até com os pés molhados continua a gostar de partilhar as coisas, passa já a apresentar:


O Ultraje

"No PÚBLICO de anteontem, Luís Fernandes, da Universidade do Porto, ironizou sobre a transformação em pasta de papel, pelo grupo Leya, “de dezenas de milhares de livros de Jorge de Sena, Eugénio de Andrade, Eduardo Lourenço e Vasco Graça Moura, publicados pela ASA”.

Sempre quis comprar um dos livros destruídos: a antologia de poesia e prosa que Eugénio de Andrade fez e a ASA editou, com o nome maravilhoso e verdadeiro de Daqui houve nome Portugal. Era um livro bonito, grande, muito bem impresso e encadernado, sob a chancela da Oiro do Dia. Li-o na biblioteca de universidades inglesas mas, para vergonha minha (como já o tinha lido, num prenúncio dos malefícios da Internet), nunca o comprei; apesar de achar que, sendo caro, era barato para o que era. O papel era bom. A selecção era boa. Era um livro perfeito – e até hoje não o tenho.

Tenho ligações sentimentais ao grupo Leya (por causa d”O Independente) e ainda esta semana recebi uma proposta simpática e tentadora da Dom Quixote, que agora faz parte da Leya. Mas que posso fazer quando uma grande editora, recém-formada e sem qualquer tradição literária, transforma um livro que era caro de mais para eu comprar em pasta de papel? É de vomitar. Não podemos dar dinheiro a quem só pensa em dinheiro. José Saramago – mau escritor mas boa pessoa, na minha miserável opinião – foi enganado. Eugénio de Andrade e Jorge de Sena – um grande poeta e um génio – foram ultrajados.

Desejo sinceramente que a Leya se foda".


E agora...foi tão bom para vocês como foi para mim?!
Realmente, há um poder libertador no palavrão.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Palavrão

Acho que devo começar por explicar que ainda me encontro sob o efeito de analgésicos. Dada a explicação, passo a apresentar aquilo que procurei, durante uns breves minutos, para partilhar aqui, neste belo e grandioso espaço.

"O poder libertador do palavrão"

«Quando se usam palavrões sem ser com o sentido concreto que têm, é como se estivéssemos a desinfectá-los, a torná-los decentes, a recuperá-los para o convívio familiar. Quando um palavrão é usado literalmente, é repugnante.

Quando uma esferográfica não escreve num exame de Matemática "ah a grande puta... não escreve!", desagrava-se a mulher que se prostitui.

Em Portugal é muito raro usarem-se os palavrões literalmente. É saudável.

Entre amigos, a exortação "Não sejas conas", significa que o parceiro pode não jogar um caralho de fifa2006. Nada tem a ver com o calão utilizado para "vulva", palavra horrenda, que se evita a todo o custo nas conversas diárias.

Pessoalmente, gosto da expressão "É fodido..." dito com satisfação até parece que liberta a alma!

Do mesmo modo, quando dizemos "Foda-se!", é raro que a entidade que nos provocou a imprecação seja passível de ser sexualmente assaltada. Por ex.: quando o Joaquim "descia" os 8 andares do prédio para ir á garagem buscar a moto e verificava que se tinha esquecido de trazer as chaves... "Foda-se"!! não existe nada no vocabulário que dê tanta paz ao espirito como um tranquilo "Foda-se...!!".

O léxico tem destas coisas, é erudito mas não liberta.

Enquanto um pai, ao não conseguir montar um avião da Lego para o filho, pode suspirar após três quartos de hora, "ai o caralho...", sem que daí venha grande mal à família.

Quando o mesmo pai, recém-chegado do Kit-Market ou do Aki, perde uma peça para a armação do estendal de roupa e se põe, de rabo para o ar, a perguntar "onde é que se meteu a puta da porca...?", está a dignificar tanto as putas como as porcas, como as que acumulam as duas qualidades.

Para dizer que uma localidade fica fora de mão, não se pode dizer que "fica na vagina da mãe" ou "no ânus de Judas".

Quem é que se atreve a propor expressões latinas como "fellatio" e "cunnilingus"? .

Os palavrões são palavras multifacetadas, muito mais prestáveis e jeitosas do que parecem. É preciso é imaginação na entoação que se lhes dá. Eu faço o que posso.»

Como devem ter calculado este artigo faz todo o sentido neste preciso momento. É que o facto de ter de estar sob o efeito de analgésicos leva-me a querer usufruir do poder libertador do palavrão.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Mensagem codificada


Aprendi hoje, com o Miguel Esteves Cardoso, que o código "831" é bom. Afinal, é como ele diz: "são 8 caracteres, 3 palavras, 1 significado". Só que é "O" significado.
Descobri também que, após o que escrevi, alguns de vocês podem responder-me com um "meh" (como devem ter reparado também é um código que conheci hoje, exactamente com a mesma pessoa).
Só que aí eu retribuo com um  "lic". 
Mas, e já entre risos, terminamos com um "SSDD", porque a realidade é que impera o "831".

Ai Miguelito, só tu para me ensinares códiguices, que dito por ti soa tão bem.
Pst, é fácil descodificarem basta lerem a crónica dele.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

No zapping


Troca-se uma saída por um pouco de zapping. Não pelos programas em si mas sim por um pouco de relaxe. E hoje, tal como na sexta-feira passada, era para ter ido conhecer  uma pessoa que tem uma profissão interessante e cuja transmissão de sabedoria certamente seria pertinente. A questão da "correria" levou-me a evitar o convivío, que desta vez era com um senhor.
E por todos os motivos e mais alguns volto a partilhar o trabalho desta organização. E a referir que cada vez mais gosto da escrita de Miguel Esteves Cardoso.

sábado, 18 de julho de 2009

O que se quer

"Querer alguém, ou alguma coisa, é muito fácil. Mesmo assim, olhar e sentirmo-nos querer, sem pensar no que estamos a fazer, é uma coisa mais bonita do que se diz. Antes de vermos a pessoa, ou a coisa, não sabíamos que estávamos tão insatisfeitos. Porque não estávamos. Mas, de repente, vemo-la e assalta-nos a falta enorme que ela nos faz. Para não falar naquela que nos fez e para sempre há-de fazer. Como foi possível viver sem ela? Foi uma obscenidade. Querer é descobrir faltas secretas, ou inventá-las na magia do momento. Não há surpresa maior.

O que é bonito no querer é sentirmo-nos subitamente incompletos sem a coisa que queremos. Quanto mais bela ela nos parece, mais feios nos sentimos. Parte da força da nossa vontade vem da força com que se sente que ela nunca poderia querer-nos como nós a queremos. Querer é sempre a humilhação sublime de quem quer. Por que razão não nos sentimos inteiros quando queremos? É porque a outra pessoa, sem querer, levou a parte melhor que havia em nós, aquela que nos faz mais falta. É a parte de nós que olha por nós e nos reconcilia connosco. Quanto mais queremos outra pessoa, menos nos queremos a nós...

Querer é mais forte que desejar, pelo menos na nossa língua. Querer é querer ter, é ter de ter. Querer tem mesmo de ser. Na frase felicíssima que os Portugueses usam, "o que tem de ser tem muita força". Desejar tem menos. É condicional. Quem deseja, desejaria. Quem deseja, gostaria. Seria bom poder ter o que se deseja, mas o que se deseja não dá vontade de reter, se calhar porque são muitas as coisas que se desejam e não se pode ter todas ao mesmo tempo.

Querer é querer ter e guardar, é uma vontade de propriedade; enquanto desejar é querer conhecer e gozar, é uma vontade de posse. O querer diminui-nos, mas o desejar não. Sabemos que somos completos quando desejamos - desejamos alguém de igual para igual. Quando queremos é diferente - queremos alguém com a inferioridade de quem se sente incapacitado diante de quem parece omnipotente. O desejo é democrático, mas o querer é fascista.

O que desejamos, dava-nos jeito; o que queremos fez-nos mesmo falta. Mas tanto desejar como querer são muito fáceis. Ter, isto é, conseguir mesmo o que se quer é mais difícil. E reter o que se tem, guardando-o e continuando a querê-lo, tanto como se quis antes de se ter, é quase impossível. Há qualquer coisa que se passa entre o momento em que se quer e o momento em que se tem. O que é?
"Cada pessoa, - dizia Oscar Wilde, - acaba por matar a coisa que ama". Mata-a, se calhar, quando sente que a tem completamente. (...)

A verdade, triste, é que uma pessoa completa, a quem não falta nada, não é capaz de querer outra pessoa como deve ser. No momento em que se sente que tem o que quer, foi-lhe devolvida a parte que lhe fazia falta e passou a ter tudo em casa outra vez. Fica peneirenta, sente-se gente outra vez. É feliz, está satisfeita e deixou de ser inferior à sua maior necessidade. O ter destrói aquilo que o querer tinha de bonito. Uma necessidade ocupa mais o coração, durante mais tempo, que uma satisfação. Querer concentra a alma no que se quer, mas ter distrai-a. Nomeadamente, para outras coisas e outras pessoas que não se têm. (...)

É bom que se continue a julgar que aquilo de que se precisa é exterior a nós. Só quem está voltado sobre si, piscando o olho ao umbigo, pode achar que tem tudo o que precisa. (...)

Quando se quer realmente, dar-se-ia tudo por ter. A coisa ou a pessoa que se quer têm o valor imediato igual a todas as coisas e pessoas que já se têm. Trocavam-se todas as namoradas, ou todos os namorados, que já se namoraram, pelo namoro de uma única pessoa que se quer namorar. É esta a violência. É esta a injustiça. Mas é esta também a beleza. Quem aceitaria que um novo amor significasse apenas parte de uma vida? Não sendo a vida inteira, não sendo tudo o que importa, numa dada altura, num dado estado do coração, porque nos havíamos de ralar? (...)

O querer é bonito porque, concentrando-se na coisa ou na pessoa que se quer, elimina o resto do mundo. O resto do mundo é uma entidade muito grande que tem graça e tem valor eliminar. Querer um homem em vez de todos os outros homens, uma mulher em vez de todas as outras mulheres é fazer a escolha mais impossível e bela. Acho que se pode ter tudo o que se quer de muitas pessoas ao mesmo tempo, mas que não se pode querer senão uma pessoa. Ter todas as pessoas não chega para nos satisfazer, mas basta querer só uma, e não a ter, para nos insatisfazer. É por isso que se tem de dar valor à vontade. Poder-se-á querer ter alguém, sem querer também ser querido por essa pessoa? Eu não sei.

Como raramente temos o que queremos ter ou queremos bem ao que temos, é boa ideia dar uma ideia da atitude que se pretende. Em primeiro lugar, convém mentalizarmo-nos que querer é desejável só por si, pelo que querer significa. Quem tem tudo e não quer nada é como quem é amado por todos sem ser capaz de amar ninguém. Dizer e sentir "eu quero" é reconhecer, da maneira mais forte que pode haver, a existência de outra pessoa e de nós. Eu quero, logo existes. Eu quero-te, logo existo.

Em segundo lugar, ter também não é tão bom como se diz. Ter alguém ocupa um espaço vital que às vezes é mais bonito deixar vazio. (...)

Ter o que se quis não é tão bom como se diz, nem querer o que não se tem é assim tão mau. O segredo deve estar em conseguir continuar a querer, não deixando de ter. Ou, por outras palavras, o melhor é continuar a ser querido sem por isso deixar de ser tido. O que é que todos nós queremos, no fundo dos fundos? Queremos querer. Queremos ter. Queremos ser queridos. Queremos ser tidos. É o que nos vale: afinal queremos exactamente o que os outros querem. O problema é esse."


(Confesso que cada vez mais gosto deste "gajo". Quando leio as crónicas dele gosto sempre de alguma coisa nem que seja da escrita em si.
Que escrita! Este texto é antigo e chama-se "O que se quer").

quinta-feira, 14 de maio de 2009

O "tal" elogio ao Amor


É muito comum ouvir algumas pessoas a dizerem que se identificam completamente com "O elogio ao Amor", de Miguel Esteves Cardoso. É também comum ouvir quem se queixe de não ter tido o talento para o escrever... Por estas razões e outras mais coloco-o aqui.

Elogio ao Amor

"Quero fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática.
Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.
Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo". O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas.
Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá tudo bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo? O amor é uma coisa, a vida é outra.
O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental".
Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e
da serenidade. Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar. O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto.
O amor é uma coisa, a vida é outra.
A vida às vezes mata o amor. A "vidinha" é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não dá para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende. O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem. Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir.
A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a vida inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também."


Já dizia Ernest Hemingway: "Escreve, se puderes, coisas que sejam tão improváveis como um sonho, tão absurdas como a lua-de-mel de um gafanhoto e tão verdadeiras como o coração simples de uma criança”.