segunda-feira, 21 de março de 2011

Caminhos

Acordar bem cedinho para seguir pelos caminhos de Portugal, não a passeio, nem por diversão. E  alteraram-se as tarefas porque há certos serviços que não sabem cumprir horários.
E sentados à sombra, e do nada, recordámos a dança. E sorrimos.
Bem sei que é o Dia Mundial da Poesia mas apareceu-me este texto de Miguel Esteves Cardoso e não resisti em partilhar.Maravilhoso.


"O essencial é amar os outros. Pelo amor a uma só pessoa pode amar-se toda a humanidade. Vive-se bem sem trabalhar, sem dormir, sem comer. Passa-se bem sem amigos, sem transportes, sem cafés. É horrível, mas uma pessoa vai andando.
Apresentam-se e arranjam-se sempre alternativas. É fácil.
Mas sem amor e sem amar, o homem deixa-se desproteger e a vida acaba por matar.
Philip Larkin era um poeta pessimista. Disse que a única coisa que ia sobreviver a nós era o amor. O amor. Vive-se sem paixão, sem correspondência, sem resposta. Passa-se sem uma amante, sem uma casa, sem uma cama. É verdade, sim senhores.
Sem um amor não vive ninguém. Pode ser um amor sem razão, sem morada, sem nome sequer. Mas tem de ser um amor. Não tem de ser lindo, impossível, inaugural. Apenas tem de ser verdadeiro.
O amor é um abandono porque abdicamos, de quem vamos atrás. Saímos com ele. Atiramo-nos. Retraímo-nos. Mas não há nada a fazer: deixamo-lo ir. Mai tarde ou mais cedo, passamos para lá do dia a dia, para longe de onde estávamos. Para consolar, mandar vir, tentar perceber, voltar atrás.
O amor é que fica quando o coração está cansado. Quando o pensamento está exausto e os sentidos se deixam adormecer, o amor acorda para se apanhar. O amor é uma coisa que vai contra nós. É uma armadilha. No meio do sono, acorda. No meio do trabalho, lembra-se de se espreguiçar. O amor é uma das nossas almas. É a nossa ligação aos outros. Não se pode exterminar. Quem não dava a vida por um amor? Quem não tem um amor inseguro e incerto, lindo de morrer: de quem queira, até ao fim da vida, cuidar e fugir, fugir e cuidar?"

2 comentários:

Alina Baldé disse...

puxa... fiquei sensível! :)

maria disse...

O amor não se entrega,não resiste,não se quer autónomo.Sim o amor é tudo e não é nada.Podes ser livre e amar ou podes ser cativo desse amor que te provoca, esmaga e te tira a respiração,ages como se tivesses vinte anos,funcionas com uma dependênte, uma viciada. Mas o que tem de bom,è o sentir o renascer,sofrer também mas viveres e construir sonhos como à muito não acontecia.