"Os sentimentos que mais doem, as emoções que mais pungem, são os que são absurdos - a ânsia de coisas impossíveis, precisamente porque são impossíveis, a saudade do que nunca houve, o desejo do que poderia ter sido, a mágoa de não ser outro, a insatisfação da existência do mundo. Todos estes meios tons da inconsciência da alma criam em nós uma paisagem dolorida, um eterno sol-pôr do que somos...O sentirmo-nos é então um campo deserto a escurecer, triste de juncos ao pé de um rio sem barcos, negrejando claramente entre margens afastadas."
E hoje, só porque sim, apetece-me, ainda, partilhar este poema, de António Barbosa Bacelar.
"Sinto-me, sem sentir, todo abrasado
No rigoroso fogo que me alenta;
O mal, que me consome, me sustenta;
O bem, que me entretém, me dá cuidado.
Ando sem me mover, falo calado;
O que mais perto vejo, se me ausenta,
E o que estou sem ver, mais me atormenta;
Alegro-me de ver-me atormentado.
Choro no mesmo ponto em que me rio;
No mor risco me anima á confiança;
Do que menos se espera estou mais certo.
Mas se de confiado desconfio,
É porque, entre os receios da mudança,
Ando perdido em mim como em deserto".
É tão bom saber que palavras, como estas, inspiraram, e ainda inspiram, outros tantos sonhadores, à criação de filmes, músicas, performances, e afins, que tocam outros tantos, e que, num nível mais estreito, marcam determinado momento pessoal, que muitas vezes nos interliga, sem se quer percepcionarmos isso. Uma espécie de "aldeia global", de McLuhan, mas a nível dos sentimentos.
Hoje, em particular, rendo-me aos poetas. Por isso, venha daí uma dose de melancolia.
Hoje, em particular, rendo-me aos poetas. Por isso, venha daí uma dose de melancolia.
1 comentário:
Escolha belissima =)
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