sexta-feira, 19 de março de 2010

O conceito de amizade em rede


A "DIFMAG", revista de tendencias e guia cultural gratuito, apresenta, este mês, o artigo "Friends will be friends", da autoria de Luis Spencer Freitas, que aborda o conceito de "amizade" associado à questão das redes sociais. Como gostei do texto, passo a partilhá-lo.
"Há  alguns  dias  atrás  a  minha  namorada  perguntou-me, a rir: “desde quando é que tu és amigo de 500 pessoas?”. Confesso que no início não perceBi a pergunta e até fiquei um pouco ofendido, não  sei  Bem  porquê.  passado  uns  segundos compreendi - ela estava a falar dos meus amigos do faceBook.
A minha lista já tinha chegado às 500 pessoas – facto que estranhamente me deixou satisfeito. Não sei justifcar exactamente porquê, mas deume a mesma sensação que a de um miúdo que apanha todos os Pokemons. No entanto, decidi ser um pouco mais pragmático e analisar um pouco a minha lista. Até porque de acordo com a teoria de Dunbar, nós não conseguimos gerir muito para além de 150 relações sociais estáveis…
Comecei com fltros pouco exigentes – vamos ver quantas pessoas desta lista eu realmente conheço. OK, cheguei aos 400 – não é mau. Não contando com páginas de fãs, grupos, e afns. 350. Pus então um fltro um pouco mais exigente – destas pessoas com quem já estive pessoalmente. 300.Continua a ser um número elevado. OK, vamos ser mesmo exigentes – com quantas eu efectivamente já troquei mais que cinco minutos de conversa. 150.
Chegando aqui pus um fltro determinante – pessoas que eu não vejo ou falo há mais de um ano. 60. Destas 60, quem é que eu considero um “amigo” no verdadeiro sentido da palavra. E cheguei ao número fnal: 35 pessoas. Portanto, de aproximadamente 500 pessoas que completam a minha lista de amigos, posso considerar 35 pessoas como “amigos” e tudo o resto inserese numa categoria perdida no Facebook que será algures entre trabalho, conhecidos e “pessoas com quem conversei pouco mais de cinco minutos, mas mesmo assim adicionei no Facebook”.
Isto deixoume a pensar na política que cada pessoa adopta para o seu Facebook. Existe quem aceite os convites todos e acabe por ter a sua vida à mercê de uma lista interminável – e não há nada pior senão a mulher do chefe comentar aquela fotografa tirada com amigos numa noite para esquecer. Mas também existe quem não aceite pedidos a não ser pessoas que conhece directamente – mas isto também acaba por reduzir a piada a muitas das funcionalidades que o Facebook permite – e sem amigos no Farmville não teria metade das galinhas que tenho.
Qual era o caminho natural? Começar a “apagar” pessoas – muitas pessoas. Cruelmente, friamente e com a certeza absoluta da triste realidade que elas nem sequer se aperceberam que eu desapareci da sua lista de amigos.
Instalouse um momento de silêncio… não pelo facto da minha lista já não estar tão cheia de amigos, mas sim por já não estar tão vazia. Decidi então aproveitar as políticas de privacidade e a opção de listas do Facebook, tão pouco conhecidas pela maioria dos utilizadores, para compor grupos e dentro desses grupos defni quem via o quê na minha página. A minha política de amigos surgiu por si própria não vou aceitar pedidos de amizade que não passem nos meus fltros. Resultado – tenho 360 amigos.
No fundo, os amigos no Facebook podem ser comparados em parte aos berlindes que tivemos na escola primária. Quantos mais berlindes temos no saco, mais populares somos. No entanto, há quem escolha ter menos mas ter berlindes grandes – os abafadores para jogar. É uma questão de estratégia pessoal. Eu sou mesmo do caso que gosto de um saco cheio – mas que sejam berlindes com os quais tenha jogado pelo menos uma vez!"
 (Podem ler mais artigos da revista aqui ).

2 comentários:

Alina Baldé disse...

bom texto! excelente análise!

Darling Girl disse...

Trata-se de um texto muito bem redigido e aplicável à realidade social.